quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Romance - Cap 1, Lanças Cruzadas - Parte 1

- Seja bem vindo, Capitão Krist.

Acenei positivamente com a cabeça, caminhei rapidamente até o centro da sala e postei-me em posição de sentido.

- General, Conselheiro – fiz uma mesura para cada um. Eleanor Olir era o general de todas as tropas de Villent, era um homem poderoso, de modos militares e olhar severo. Já vivera quase meio centenário, mas mantinha físico e mentes de um jovem. Augustos era membro do Conselho e patrono do meu destacamento. Era baixo e tinha barriga, tinha a mesma idade do homem ao lado, mas seu cabelo era preto como a noite, enquanto do outro era branco e ralo. De sorriso fácil e uma linguá sábia, um politico nato, mas um homem honesto.

O salão onde estávamos era totalmente espartano. Apenas uma grande mesa e duas cadeiras, que, junto as paredes de pedra nuas e uma tapeçaria completavam o todo. Ali eram tomadas as decisões militares da cidade: postos de guarda, percursos das rondas e outras coisas do tipo. Seria ali que seria tomada mais uma delas, e talvez, uma das mais importantes.

- A vontade, - os dois me observavam como aves que observavam uma presa, e o mais estranho, era que eu gostava daquilo. Retirei meu elmo e o apoiei contra meu flanco direito. - Como vão as suas tropas Capitão?

Formalidades, mas ali, infelizmente eram necessárias.

- Firmes General. Nossa ultima missão fora completada com exito Senhor, e nenhum dos meus homens obtiveram ferimentos graves. - Eleanor confirmou com um movimento. Eu continuei: -Nesse momento estávamos em treinamento, peço desculpas por meus trajes. - Minhas vestes estavam ensopadas de suor, e mesmo por baixo do meu peitoral de aço podiam ser percebidas.

- Belos modos para um soldado! - Disse o Conselheiro enquanto punha-se de pé. Estivera sentado a frente de Eleanor, de lado para mim. Deu de alguns passos e alcançou uma das janelas.

Estávamos a muitos metros do chão, em uma das torres do Forte Central, sede dos Águias, um dos três destacamentos de elite da cidade além do meu; e prosseguiu, enquanto apoiava-se no parapeito:

-A quanto tempo está entre nossos homens Capitão?

Não sabia aonde ele queria chegar, mas tinha de entrar em seu jogo. O outro homem apenas me observava enquanto uma de suas mãos tamborilava sobre o carvalho da mesa.

- Sete anos Senhor! - disse.

- Quantos desses na sua atual patente?

- Dois, Senhor.

Foi a vez de Eleanor falar:

- Você acha-se preparado para comandar uma tropa como a sua?

Estava confuso, jogos políticos me deixavam cansado, em minha vida sempre escolhi o caminho mais rápido. Por coincidência o da espada.

- Perfeitamente Senhor, dentre os Falcões, creio que esteja a altura de todos os outros Capitães em todos os quesitos.

Eles sabiam que era verdade. Em dois anos de comando, minha tropa havia partido em dezenove missões, sendo mais de dois terços dessas sozinha, tendo retornado em apenas três delas com perdas. Contra fatos não existem argumentos, e por isso, eu era conhecido como um dos melhores estrategistas de Villent.

Dois pares de olhos continuavam sobre mim, mas os de Augustos, pareciam brilhar. Me mexi trocando a perna de apoio. Eleanor rompeu o silêncio:

- Como anda a situação da fronteira, os Yudeianos continuam suas exibições?

Relaxei: - Nos últimos dias, recebemos relatos vindos dos Cavaleiros de Valkaria, de que Soldados Yudem haviam montado acampamento a alguns quilômetros das estatuas de demarcação. Mobilizei minha tropa, e pudemos observa-los do horizonte. Permaneceram sobre as planícies acampados e regressaram sem maiores incidentes. Apenas mais um desfile Senhor.

- Quantos homens marchavam? - continuou.

- Aproximadamente cem guerreiros Senhor.

O general sinalizou com a cabeça para Algustos e pôs-se a escrever. Usava um pergaminho que cobria toda a mesa, pena longa e tinta preta; materiais utilizados na emissão de um documento oficial. Augustos falou:

- Pois bem Capitão, - cruzara os braços por sobre o peito, - como responsável pela guarnição da fronteira, creio que esteja apto confirmar que Yuden não tenciona um ataque real.

Confirmei imediatamente.

Como era de se esperar, os Yudeianos adotaram um costume ridículo nas regiões fronteiriças. Uniam uma grande tropa, que desfilava em patrulhas fora das rotas. Apenas mais um truque imundo de Mitkov, apenas um estratagema para afastar os comerciantes mais covardes da cidade. Um golpe banal, que fora percebido rapidamente pelo conselho, mas um golpe banal que funcionara. O comercio da cidade declinara ligeiramente, graças a crescentes caravanas de outros reinos que preferiam desviar suas rotas, ao arriscar-se sob os caprichos vindos do outro lado da fronteira. Para piorar, intrigas e boatos criados propositalmente ganhavam forças. Nós riamos de tudo isso, mas sentíamos nos cofres da cidade. Minha tropa tinha o dever de rechaçar figurativamente as forças do norte. Era um trabalho enfadonho e irreal, mas eu preferia aos salões da corte.

Augustos pareceu satisfeito, saiu de onde estava e postou-se ao lado da cadeira onde estivera anteriormente. Apesar de incomodo, o reino do norte não deveria ser um inimigo por agora. Para Thormy, já bastavam a Tormenta no extremo norte, as tensões entre Bielefild e Portsmoth, a praga de Lomathubar e outras mais. Foi a vez e Eleanor se erguer. Ele terminara de escrever, enrolou o pergaminho em um rolo de bronze e o selou marcando em cera a marca do seu anel.
Deu a volta na mesa com passos marcados pela postura perfeita, estancou junto ao conselheiro. O rolo permaneceu onde estava.

Pus-me em sentido novamente, e o General falou:

- Suas habilidades são reconhecidas por seus superiores, tanto quanto por seus inimigos. - Ele me olhava fixo nos olhos. Era seu jeito de mostrar liderança, e digo que funcionava. - Dentro de três dias haverá um conselho, um conselho militar. Leve seus homens ao fórum, receio que seu destino e o deles lhes seja informado.

Refleti sobre aquelas palavras, aquele questionamento não fora em vão. Receberíamos nossa missão, disso não tinha duvidas, mas tinha certeza que não seria algo que já tenha participado, isso, me instigava.

- Vá Capitão e em três dias nos veremos novamente; - o Conselheiro sorriu, - dê folga a seus homens.

Fiz uma mesura, fui dispensado e me virei prestes a partir, dei alguns passos mas exitei. Meus pensamentos estavam a mil, e as palavras saltaram da minha boca inconscientemente.

- Os falcões marcharão para guerra – disse inesperadamente.

Silêncio.

Eleanor me olhou frio, mas Augustos manteve o sorriso – Marcharão, e você os comandará.

Um nó formou-se em minha garganta e uma gota fria de suor escorreu por minha espinha.

- Será uma honra – outra mesura, e me retirei.

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