terça-feira, 9 de março de 2010

Romance - Cap 1, Lanças Cruzadas - Parte 2

Os degraus da escada passavam rápido, saltava-os de dois em dois enquanto meus pensamentos estavam longe. Liderar havia se tornado um habito, muitos homens se entregavam a ambição tencionando um posto como este. Eu sempre fora guerreiro, por isso orgulhoso. Sempre quisera liderar, mas agora que o fazia, sentia a responsabilidade e estava tranquilo com o que tinha. Era capitão de uma tropa, comandava cem dos melhores homens da cidade. Só que agora teria mais. Os Falcões contavam com cinco destacamentos, sendo o meu o terceiro. Todos com o mesmo numero de soldados e experiencia. Era o capitão mais novo, e o que estava nas tropas a menos tempo, ascendera rápido no exercito e depois na elite. Havia muita inveja, e mesmo que controlada estava lá. Sentia os olhares ressentidos e percebia os comentários enrustidos, nada que me importa-se verdadeiramente, mas, quando se está no comando, há um preço a pagar. Nunca havia questionado um palpite de outro capitão, executava a minha parte sem meter-se na dos outros, mesmo não sendo reciproco. No fundo todos sabiam que eu era bom, isso os incomodava e me satisfazia. Haveria mais inveja quando descobrissem, mas não haveria tempo para discórdias, logo, as estradas do sul seriam meu caminho.
Cumprimentei todos os servos pelo caminho, era uma estratégia suja com os outros lideres, mais eficiente e sutil do que qualquer um imaginaria. Enquanto os outros tratavam-los com indiferença eu era cortês, logo, eu era querido, os outros não, e isso também fazia diferença.
Garilo trouxe meu cavalo, trabalhava como colcheiro desde pequeno, tinha doze anos, montava como ninguém e era mais esperto que a maioria, já havia solicitado-o como meu escudeiro, mas como eu era um Falcão, o pedido estava sendo averiguada pela patrona da tropa, e não parecia que fosse ser aceito facilmente.
- Senhor.

- Como vai menino?
- Andei treinando senhor, e aprendi golpes novos. - Em alguns dias de folga lhe ensinava um pouco sobre a espada, fizera a ele uma de madeira como presente. Seus pais eram servos no Forte Mir, sede da minha tropa. Passava muito tempo nos observando, vez ou outra deixava ficar ao meu lado.
- Espero que treine Garilo, ou não poderá fazer o teste para a tropa quando tiver a idade. Lembre-se, entre os Falcões, apenas os melhores.
Ele sorriu e segurou meu escudo enquanto eu montava.
- Até lá estarei golpeando como pica-pal senhor.
Sorri e toquei meu cavalo, ele me observou por longos segundos, depois deu meia volta e se concentrou em seus afazeres.
Eu galopava um cavalo emprestado, fazia parte do contingente da cidade. Era um bom animal, mas eu já tinha uma parceira a minha altura. Valarin era uma égua valorosa, arisca e forte, galopara comigo para uma duzia de batalhas sem nunca refugar. Estava acostumado com a parceria, cavalgar qualquer outro animal era estranho. Só nos separávamos em casos raros, e naquele dia precisara trocar as ferraduras. Vespão, que tinha um nome estranho para um cavalo, me olhava com o canto dos olhos quando puxava as rédeas com força demasiada, eu me desculpava, e prosseguíamos nos estranhando.
£¢£

Esvaziei a terceira taça de vinho, a ânfora estava quase vazia. Re-epus todo o liquido que sobrara, comi o fim de um dos pães que foram assados essa manhã. Outro gole, um pedaço de queijo e novamente mais vinho. Era engraçado como a bebida era o refugio até mesmo dos maiores guerreiros.
Tália me fitava ferozmente, seus olhos lupinos misturavam-se a tempestade negra que eram seus cabelos lisos. Uma beleza feroz e fascinante, quase inimaginável em um membro da corte, normalmente, mulheres assim eram encontradas nos ermos, não entre as facilidades palacianas. Ela não tocara sua comida, me observava sem hesitar do outro lado da grande mesa. Eu ainda não falara, preferia o silencio em ocasiões como esta.
Ela sabia.
Dizem que toda mulher tem seus próprios dons. Algumas enfeitiçam homens com dezenas de formas diferentes, outras ainda, tem sentimentos inexplicáveis e sempre sabem o que se passa.

Minha esposa era uma delas.
Podia ver seus olhos margeados em lágrimas, e somente seu orgulho a permitia não chorar abertamente. De alguma maneira ela pressentira, sabia que eu partiria. Em dois anos, toda vez era igual. Lágrimas, rancor e tristeza, não necessariamente nessa ordem.
Apanhei uma maçã verde no cesto e me levantei, caminhei até a janela mais próxima e estanquei observando a chuva batendo forte no vidro. Era um luxo para poucos, as peças vinham da capital de Tyrondir e atingiam preços altíssimos. Lá fora uma tempestade transcorria, gotas violentas e trovões que riscavam o céu escuro de azul, o clareando por alguns breves instantes. Senti o corpo pequeno encostar-se no meu. A abracei forte trazendo-a forte para meu peito. Ela chorava.
Ficamos ali por muito tempo, palavras não faziam-se necessárias, era apenas o conforto de se “estar perto”. Seus braços tremiam e ela soluçava, mas me abraçava sem hesitar. Era bem menor que eu, ergui-a apertando ainda mais, nos beijamos e ela me empurrou para longe.
- Por que não me diz a verdade?
- Por que usaria palavras se os atos falam por si mesmos – respondi evasivo.
Ela tentou me socar na barriga, mas a contive.
- Por que se esconde atrás de desculpas? O que acha que sou? O que acha que serei se algo acontecer a você? - seu corpo quase convulsionava com a intensidade do choro.
- Eu a amo, e você é tudo que tenho, mas é esse o meu dever.
Novamente ela se afastou.
- Seu dever é cuidar de mim, seu dever é cuidar de seus filhos e não ser o peão de jogos políticos. Seu general deveria lutar em seu lugar, o conselho deveria lutar.
- Não seja injusta Tália. - me aproximei novamente e a segurei pelos braços – Eu, não defendo políticos, defendo nossas terras, nossos filhos, você; E são graças a homens como eu, o general e o conselho, que podemos almejar um futuro.
- O dever de um marido é estar ao lado de sua esposa, cuidando dos negócios, da família – ainda havia intensidade em seus olhos, mas ela sabia que não haveria volta.
- Sou seu marido, mas sou soldado. Entendo suas motivações, mas partirei por motivos maiores até mesmo que a mim próprio. Espero que me entenda, e haverá tempo para que pense no assunto – a abracei forte e lhe dei um beijo na testa. Olhei a nos olhos e me afastei. Ainda haveria uma despedida, demoraria um pouco a partir. Hoje dormiria longe do calor dos braços de minha mulher, chegava a ser engraçado. Um preço alto demais para alguem que podia perder a vida para salvar a dos outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário